Linha de montagem de modelos Citroën e Peugeot em Porto Real: capacidade ociosa acima de 50% terá de ser administrada pela Stellantis
Em sua primeira entrevista como CEO global da recém-criada Stellantis – empresa nascida da fusão entre FCA e PSA concluída esta semana –, Carlos Tavares indicou que, ao menos por enquanto, irá administrar a enorme capacidade ociosa de algumas das fábricas da corporação no Brasil e na Argentina sem fechar plantas na região, como anunciou a Ford há dez dias (leia aqui). A unidade brasileira em Porto Real (RJ) tem a pior situação: completa 20 anos de produção de modelos Peugeot e Citroën no Brasil com ociosidade que atualmente supera os 50%.
“Existem momentos no tempo em que empresas não conseguem mais administrar ventos contrários e precisam tomar decisões duras, como aconteceu semana passada [com a Ford] no Brasil, que acendeu uma luz de alerta. Mas este não é o caso da Stellantis no momento na América Latina, onde temos uma rentável participação de 17% e continuamos trabalhando na melhoria de fábricas e produtos na região”, afirmou Carlos Tavares.
De fato, todas as plantas da Stellantis no Brasil e na Argentina, mesmo as mais ociosas, têm projetos de investimentos herdados da FCA e PSA para fabricar novos veículos. Ao que parece, Tavares pretende manter todos eles em curso. “Mas nunca se sabe o que vai acontecer no futuro, pois toda companhia tem seus limites para enfrentar adversidades”, ponderou.
“Essa é uma pergunta que deve ser feita aos governos da região, se realmente querem ou não ter uma indústria automotiva forte, porque também dependemos de decisões regulatórias que podem impor barreiras intransponíveis ao negócio e tornar mais curtos os limites da inviabilidade”, indicou Tavares, em recado direto aos governantes sobre o cada vez mais adverso ambiente de negócios em vários países, especialmente no Brasil.
FCA E PSA JUNTAS TORNAM AMÉRICA LATINA MAIS IMPORTANTE
Português de nascimento, Tavares domina não só o idioma falado no Brasil como também conhece bastante bem os problemas e adversidades da região – enquanto foi chefe de operações da Renault e depois como CEO da PSA esteve dezenas de vezes no País, nas últimas visitas dedicou boa parte do tempo à implementação de um plano de recuperação de Peugeot e Citroën, que juntas hoje têm menos de 1,5% de participação no mercado brasileiro, o maior da América Latina. O executivo aponta que com a Stellantis a região aumenta sua importância para a companhia e assim se torna mais sustentável.
Não por acaso, quem mostrou o melhor desempenho até agora irá liderar a nova empresa na região. Antonio Filosa, que até semana passada foi o presidente da FCA Latam, já foi nomeado chefe de operações (COO) da Stellantis na América Latina – e com isso seguirá respondendo a Mike Manley, agora ex-CEO da FCA e atual líder da Stellantis nas Américas. Patrice Lucas, que serviu como presidente da PSA América Latina, foi deslocado para o cargo de vice-diretor global de engenharia, dedicado ao desenvolvimento de projetos e linhas de produção múltiplas.
“Estamos progredindo e até agora nosso time na região, principalmente na FCA, está fazendo um trabalho admirável, demonstrando nível elevado de resiliência, talento e conhecimento”, elogiou Tavares. “Vamos continuar melhorando nossas operações na América Latina com significativa autonomia para desenvolver e produzir os veículos que os clientes precisam nesses países, oferecendo mobilidade segura, limpa e acessível. Esta é a nossa missão, trabalhamos muito para fazer isso e empurrar para mais longe os nossos limites”, completou.