Mercedes-Benz já usa seu campo de provas de R$ 90 milhões em Iracemápolis

Área do campo de provas da Mercedes-Benz em Iracemápolis: 1,3 milhão de metros quadrados com 16 pistas de simulações

Redacao AB

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Área do campo de provas da Mercedes-Benz em Iracemápolis: 1,3 milhão de metros quadrados com 16 pistas de simulações

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Quase dois anos após ser anunciado, entrou em operação este mês o primeiro campo de provas para veículos comerciais da Mercedes-Benz no Brasil – e no Hemisfério Sul. A empresa investiu R$ 90 milhões para construir 12 quilômetros de 16 pistas para simular 14 trechos de pavimentações diferentes, tudo em área de 1,3 milhão de metros quadrados, ou 150 campos de futebol, dentro do mesmo terreno da fábrica de automóveis da marca em Iracemópolis, inaugurada em 2016 no interior paulista. Dotada de instrumentação de última geração, a unidade de simulações é conectada on-line com a rede global de desenvolvimento de produtos da Daimler Trucks, pode abrigar dezenas de testes simultâneos de caminhões e ônibus e vai reduzir substancialmente o tempo de maturação de projetos.

“Construímos o maior e melhor equipado campo de provas para caminhões e ônibus do Hemisfério Sul. Estamos inaugurando aqui a nossa engenharia 4.0, com enorme ganho de eficiência no desenvolvimento de produtos”, comemorou Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz do Brasil.

Segundo o executivo, apenas 1 km de simulações no campo de provas equivale a 60 km de operação regular em vias públicas. “Cerca de 17 mil km rodados aqui dentro é o mesmo que 1 milhão de quilômetros que teríamos de rodar em ruas e estradas para desenvolver um caminhão. É um enorme ganho de tempo, além de permitir o desenvolvimento de soluções mais customizadas para nossos clientes”, destacou Schiemer. Outra vantagem será a economia de recursos com o aluguel de áreas para testes, como a Fazenda Pimenta no interior paulista, que até agora a Mercedes-Benz era obrigada a gastar para validar seus produtos no País. O campo de Iracemápolis tem pistas de terra e pavimentadas

Demorou 62 anos, idade da operação da empresa no País, para a Mercedes-Benz ter seu próprio campo de provas nacional. “Antes isso não era tão necessário, hoje a tecnologia dos veículos que fabricamos exige essa engenharia mais sofisticada”, justifica Schiemer. Mas ele reconhece que sem a política de incentivos fiscais à pesquisa e desenvolvimento trazida pelo Inovar-Auto, que vigorou de 2013 a 2017, “teria sido muito difícil aprovar este investimento”. Segundo o executivo, no campo de Iracemápolis “tiramos do papel para a prática os incentivos que recebemos, construindo instalações como esta, que são fundamentais para aumentar a qualidade dos produtos e a competição da indústria brasileira no mercado internacional”.
Já existe no horizonte uma segunda fase de ampliação das facilidades do campo de Iracemápolis. “Agora vamos fazer conforme as necessidades vão surgindo. Ainda não temos aqui, por exemplo, uma pista de alta velocidade, nem área de testes de ESC (controle eletrônico de estabilidade, que será obrigatório para todos os veículos vendidos no País a partir de 2020)”, informa Schiemer.

REDE GLOBAL

Como parte da rede de desenvolvimento de produtos da Daimler Trucks, o campo de Iracemápolis tem instalações similares e compartilha informações on-line com outras facilidades do grupo em Wörth, Alemanha, e Madras, Estados Unidos. Agora a subsidiária brasileira pode realizar testes com o mesmo rigor técnico e métrico das demais unidades do grupo no mundo. A unidade no interior paulista tem mesmas e idênticas 844 placas de pavimento aplicadas nas pistas de testes do campo alemão. Engenheiros da empresa aqui e lá podem acompanhar imagens e dados de todas as simulações nas telas de computadores de suas mesas, para comparar e trocar experiências. Por isso em Iracemápolis poderão ser desenvolvidos veículos não só para o Brasil, mas para qualquer parte do mundo. Os pisos do campo de provas têm 14 trechos diferentes formados por 844 placas de concreto exatamente iguais às usadas em Wörth, na Alemanha

“O Brasil tem papel importante na engenharia global da Daimler Trucks, pois é referência para testes de robustez. Devido às condições severas de rodagem, os veículos testados aqui estarão aprovados para o mundo todo”, afirmou Christof Weber, vice-presidente de desenvolvimento de caminhões e agregados da Mercedes-Benz do Brasil.

Para trazer para dentro de seu novo campo de provas a realidade da topografia brasileira, e assim poder simular condições reais de rodagem, há mais de um ano a Mercedes-Benz importou um caminhão laboratório, baseado em um extrapesado Actros, avaliado em € 1 milhão. O veículo é equipado com mais de 160 sensores que captaram dados em 16 mil km rodados, sendo 1,5 mil km em ambientes fora-de-estrada, em aplicações de transporte de grãos, cana-de-açúcar e mineração. Caminhão laboratório de € 1 milhão coletou dados em 16 mil km para replicar nas pistas de Iracemápolis a realidade brasileira

A partir dos dados coletados pelo caminhão laboratório – como curso e desgaste de suspensão, acelerações, estado dos coxins, esforços da quinta-roda e eixos, localização e topografia, entre outros –, foram projetadas as pistas de Iracemápolis com as condições mais adversas para testes de durabilidade em 16 tipos de pavimento e na terra. “Assim fizemos um campo com a cara do Brasil e os melhores equipamentos para medir as simulações”, resume Schiemer.
“Antes precisávamos rodar 50 mil km para aprovar um veículo. Hoje aqui dentro só um terço disso é suficiente. Rodamos menos, mas somos mais eficientes. É uma economia muito grande e maior rapidez de evolução dos projetos”, destaca Weber. “Trouxemos para cá o que há de mais avançado no mundo, com conceitos da indústria 4.0. Só a Mercedes tem esses recursos na região. São sistemas de monitoramento de alta precisão, que agora se somam ao laboratório [de simulações] Hydropuls que já temos no Centro de Desenvolvimento Tecnológico de São Bernardo do Campo. Com isso, nossos engenheiros ganham mais qualidade de desenvolvimento e garantem maior confiabilidade aos veículos”, completa. A Mercedes tem no Brasil cerca de 100 empregados dedicados à engenharia de simulações.
“Com os diversos perfis de pista que temos aqui, podemos executar um programa de testes específico para cada veículo, para averiguar desgastes detalhados de um ou mais componente”, explica Camilo Adas, gerente sênior de desenvolvimento de produto. Na pista, por meio de um monitor e voz o próprio sistema computadorizado informa ao motorista o que ele deve fazer. “Cada caminhão ou ônibus em teste pode ser acompanhado em tempo real aqui ou na Alemanha, com localização via GPS de precisão militar, com apenas dois centímetros de tolerância”, acrescenta. Todos os testes em andamento podem ser monitorados separadamente em um computador. Na cabine, o motorista tem um monitor que mostra medições e informa o que ele deve fazer.

O campo de Iracemápolis também conta com pista para medições de emissões sonoras e térmicas, para homologação oficial dos veículos de acordo com a legislação e o desenvolvimento de soluções para melhorar o conforto acústico e térmico. A Mercedes estuda alugar essa parte da unidade para testes de terceiros, tanto para veículos pesados como leves. Já as outras áreas são consideradas mais sensíveis, por abrigar segredos industriais em desenvolvimento, por isso deverão ter uso exclusivo da própria empresa.
Embora fique localizado no mesmo terreno da fábrica de automóveis da Mercedes, o campo de provas tem operação independente, com foco exclusivo em veículos comerciais. Somente alguns serviços como refeitório e segurança são compartilhados. O campo de Iracemápolis também tem uma pista para medir e homologar ruídos dos veículos com microfones ultrassensíveis