Estudo da CPFL aponta que, até 2030, demanda gerada por estes veículos corresponderá a 1,6% do total do País
A CPFL derrubou o mito de que a infraestrutura de energia elétrica brasileira é insuficiente para abrigar uma possível expansão dos emplacamentos de carros eletrificados. A empresa que gera, distribui e vende energia elétrica a 9 milhões de brasileiros apresentou na terça-feira, 19, os resultados do projeto Emotive, provavelmente o maior estudo já realizado para mensurar o impacto da tecnologia teria no setor elétrico. Iniciado em 2013, o programa coletou dados reais de uso de veículos zero emissão e terminou apenas em 2018 – cinco anos e R$ 17 milhões de reais em investimentos depois de seu lançamento.
Entre as grandes conclusões da investigação está o fato de que o carro elétrico teria baixo impacto na rede nacional, ainda que fosse adotado em altíssima escala, algo pouco provável. “Se a partir deste ano 100% das vendas forem de modelos com a tecnologia, em 2030 a demanda total desta frota equivaleria a apenas 5,9% do consumo energético do País”, conta Marcos Marques, coordenador técnico do projeto e gerente do CPqD, centro de pesquisa especializado em TI e telecomunicações.
CARRO ELÉTRICO RESPONDERÁ POR 7,6% DAS VENDAS
O cenário realista, diz, é de que o Brasil chegue a 1,18 milhão de carros elétricos até 2030, algo que ainda representaria participação pequena na frota nacional, de 3,8%, inclinada a alcançar total de 50 milhões de veículos neste prazo. Assim, o volume de modelos eletrificados equivaleria a apenas 7,6% ao total estimado para as vendas anuais. “Essa é a projeção com base nos dados que temos hoje”, esclarece. Segundo as informações apuradas no estudo, o avanço da tecnologia no Brasil será lento, com espaço de sobra para que as geradoras e distribuidoras de energia adequem a oferta.
Rafael Lazzaretti, diretor de estratégia e inovação da companhia, avalia que, neste ritmo, a eletrificação dos carros não impõe nenhum desafio ao qual as empresas de energia já não estejam habituadas.
“Este é o nosso trabalho, adequar a oferta de energia à necessidade de crescimento. É isso que fazemos quando são construídas novas fábricas ou shoppings centers, por exemplo”, observa.
Ele estima que hoje mesmo a rede teria capacidade para atender a 1 milhão de carros elétricos sem qualquer investimento. “Por causa da crise, temos atualmente folga de 11% na nossa capacidade.
VANTAGENS AMBIENTAIS
De acordo com o levantamento, a tecnologia ampliaria o consumo de energia elétrica do País em entre 0,6% e 1,6% nos próximos 12 anos para atender a entre 4 milhões e 10 milhões de veículos. A CPFL defende que a adoção da novidade diminuiria de forma expressiva as emissões de dióxido de carbono no país. Ainda que alguns especialistas questionem as vantagens ambientais do carros elétrico, a companhia sustenta outra teoria.
“Ambientalmente estes carros compensam mesmo se a geração de energia foi feita em termoelétrica. Com estes modelos reduzimos as emissões nas grandes cidades, onde estão concentradas as pessoas”, diz Lazzareti. Ele admite que não há soluções definitivas para o descarte das baterias de íons de lítio, mas lembra que estes materiais devem ter segunda vida em outras aplicações e que a evolução tecnológica deve logo descobrir alternativas ambientalmente amigáveis. “Pesquisamos intensamente o motor a combustão há mais de um século, mas essa investigação só começou com as baterias de íons de lítio há cerca de 20 anos. Vamos chegar lá.”
ENERGIA ELÉTRICA: O COMBUSTÍVEL MAIS BARATO
Pelas contas da CPFL, um veículo elétrico plugado no equipamento de recarga não puxa muito mais energia do que um chuveiro ligado pelo mesmo tempo, dependendo do equipamento. “Em uma residência, por exemplo, é possível fazer o abastecimento em uma tomada comum de 220 volts com pequenos reforços na estrutura elétrica”, estima.
Com tanta discussão acerca do preço dos combustíveis no Brasil, a CPFL aponta que a energia elétrica seria a alternativa mais barata para os deslocamentos. Segundo a empresa, os dados apurados com o projeto Emotive mostram que o quilômetro rodado com um carro elétrico custa R$ 0,11, valor que sobe para R$ 0,30 em veículos a combustão.
REDUÇÃO DOS IMPOSTOS, ALTA DAS VENDAS
A CPFL aposta na prometida redução da carga tributária para que as vendas de carros eletrificados cresçam ainda mais rápido no Brasil. A promessa do governo é reduzir o IPI destes veículos dos atuais 25% para entre 7% e 18%, dependendo do tipo de propulsão. Se isso acontecer a companhia estima que o preço destes modelos pode cair até 14%. Há ainda a expectativa de que o Estado de São Paulo reduza o ICMS para estes carros, algo com potencial para diminuir a tabela dos modelos em 6%, calcula a CPFL.