Carlos Ghosn ataca Nissan e reafirma ser vítima de conspiração

Ex-executivo da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi fala durante sua primeira aparição após fugir do Japão

Redação AB

Redação AB

Ex-executivo da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi fala durante sua primeira aparição após fugir do Japão

Imagem de Destaque

Após articular uma fuga espetacular entre os dias 29 e 30 de dezembro do Japão para o Líbano, Carlos Ghosn fez na quarta-feira, 8, sua primeira aparição em público em Beirute onde se encontrou com uma centena de jornalistas internacionais. Ao longo de uma entrevista coletiva que durou cerca de duas horas e meia, o ex-executivo da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi se declarou inocente e voltou a atacar a Nissan, dizendo ser vítima de conspiração.

O escândalo envolvendo Ghosn, que é brasileiro, mas que também tem cidadania francesa e libanesa, começou em novembro de 2018, quando ele foi preso no Japão acusado de sonegação de rendimentos e desvio de dinheiro da Nissan para benefício pessoal.

“Eu sou inocente de todas as acusações. Deixei o Japão porque queria justiça. Eu escapei porque não tinha chance de um julgamento justo”, disse Ghosn durante a coletiva. “As acusações contra mim são infundadas”, acrescentou.

Ele voltou a dizer que a Nissan e autoridades japonesas se uniram para derrubá-lo porque a empresa não estaria interessada no avanço de sua integração com a Renault. Carlos Ghosn não deu detalhes de sua fuga e entre os muitos assuntos que foram comentados por ele durante seu encontro com a imprensa lamentou o fato de a Aliança Renault-Nissan não ter avançado na sua proposta de fusão com o Grupo FCA Fiat Chrysler.

Ghosn lembrou que em 2017 a aliança era formada por duas empresas em crescimento e lucrativas e que naquela época estava se preparando para adicionar a FCA.

“Eu estava negociando com o John Elkan a adesão da Fiat Chrysler. A aliança perdeu o imperdível. Isso é inacreditável e agora eles estão com a PSA”, disse, e continuou: “Tive contato com a FCA. Tínhamos muito entendimento, um diálogo muito bom; infelizmente fui preso antes que chegássemos a uma conclusão”, declarou.

Ghosn havia planejado uma reunião em janeiro de 2019 para tentar concluir o acordo com a FCA. Durante a entrevista, ele também criticou a aliança Renault-Nissan:

“Eles viraram a página errada porque não há mais lucro, não há mais crescimento, não há mais iniciativa estratégica, não há mais tecnologia, não há mais aliança. O que vemos hoje é uma aliança mascarada”, disse.

Além disso, ao responder em português a uma pergunta de um jornalista brasileiro, Ghosn lamentou não ter recebido maior apoio por parte do governo brasileiro, apesar de ter agradecido à atenção recebida do cônsul do Brasil no Japão.

“Eu estava esperando um pouco mais de ajuda da parte do governo brasileiro, que não aconteceu, infelizmente”, disse, acrescentando, no entanto, que respeitava a posição de Bolsonaro de não falar sobre o caso dele com o governo japonês para não atrapalhar as autoridades do Japão.

Após as declarações dele em Beirute, procuradores japoneses emitiram um comunicado dizendo que suas acusações sobre conspiração da procuradoria com a Nissan são falsas e que ele não conseguiu comprovar suas alegações. “Carlos Ghosn fugiu do Japão agindo de uma maneira que poderia constituir um crime em si. As declarações dele durante coletiva de imprensa hoje falharam em justificar seus atos”, disse o Ministério Público de Tóquio em comunicado.

O Ministério da Justiça disse que tentará encontrar uma maneira de levar Ghosn de volta ao Japão, embora o Líbano não tenha acordo de extradição com o país. Autoridades turcas e japonesas estão investigando como Ghosn foi levado clandestinamente a Beirute. A Interpol emitiu um boletim pedindo sua prisão, que o caracteriza como fugitivo internacional.