Apple quer produzir seu veículo assumindo o controle de todo o projeto
A Apple, gigante da tecnologia conhecida por produtos disruptivos como o iPhone, está de olho no mercado de automóveis. Há anos existem especulações sobre a entrada da companhia no segmento, sem qualquer informação concreta, mas em dezembro último caiu como uma bomba sobre o mercado informação da Reuters de que a fabricante estaria trabalhando no desenvolvimento de um carro com lançamento estimado para 2024. O setor, desde então, tem especulado sobre o que o tal novo projeto poderia ser.
Rumores sobre um possível envolvimento da Apple com a indústria automotiva não são novos. Steve Jobs citou pela primeira vez a iniciativa de automóveis da empresa, batizada de Project Titan, lá em 2008. O assunto esfriou por anos e retornou com força em 2014 quando um documento vazado confirmou que o Titan continuava em andamento.
O PLANO DA APPLE
O Titan – ou o “Apple Car”, como os entusiastas da empresa de Cupertino o apelidaram – seria um veículo elétrico totalmente projetado e construído pela companhia. No entanto, com o passar dos anos, o projeto voltou para as sombras e o mercado entendeu que a Apple havia direcionado seu foco para outros projetos.
É por isso que a notícia da Reuters foi tão surpreendente – ao mostrar que o Project Titan está vivo na mesma época em que os carros elétricos começam a se popularizar, fica claro que a empresa americana deseja abocanhar uma fatia desse mercado em ascensão. A Apple, é claro, não confirmou e nem negou os boatos para a Reuters ou nenhum outro veículo. O mercado trabalha, portanto, com especulações.
Segundo a Reuters, a Apple estaria preparando um carro elétrico autônomo para dois passageiros. Gene Munster, fundador da Loup Ventures e analista de assuntos Apple, escreveu no site de sua empresa que a organização tem dois caminhos possíveis: construir um carro com a marca Apple, inaugurando sua linha de automóveis, ou então produzir softwares de navegação e serviço para licenciar para montadoras já existentes.
O primeiro caminho, argumenta Gene, seria o mais lógico, já que essa era a ideia quando o Project Titan nasceu. Além disso, um modelo próprio estaria de acordo com a cultura da empresa de criar produtos em que ela possua controle total sobre o artigo final, incluindo software, hardware, marketing, etc. Licenciar um software automotivo para outras montadoras poderia significar embutir a marca Apple em carros que não dialoguem com o pedigree da companhia.
O CARRO DA APPLE FAZ SENTIDO?
Por que entrar num mercado desafiador como o de carros quando a Apple já tem uma marca consolidada nas áreas de informática e smart devices? É simples: dinheiro. O mercado de automóveis hoje movimenta US$ 10 trilhões por ano globalmente e o segmento de veículos elétricos está decolando: segundo projeção da gestora de investimentos Ark Invest, os custos para produção de VEs irão cair e a demanda irá aumentar nos próximos anos, de modo que as ações da Tesla estarão valendo US$ 7 mil em 2025 ao entrar neste mercado. Com isso, a empresa de Elon Musk teria um valor de mercado de 1 trilhão e meio de dólares.
Outro motivo bastante razoável para a Apple apostar no segmento é que, cada vez mais, os automóveis estão se tornando computadores sobre rodas. Os recursos de navegação estão migrando do celular para o próprio painel e, em breve, os carros autônomos estarão rodando por aí, eliminando até mesmo a necessidade de um humano precisar dirigir. Com sua expertise em software e inteligência artificiail, a Apple é um dos poucos players do mercado que teria capacidade financeira e técnica para reivindicar uma vaga na área.
É sabido no mercado que a companhia chegou a negociar parcerias com diversas montadoras, como Hyundai, BMW, Magna, Nissan e Stellantis. Nenhuma dessas parcerias, no entretanto, vingou.
Para se ter uma ideia da ansiedade em torno do tema, em janeiro deste ano, rumores de uma parceria entre a Apple e as sul-coreanas Hyundai e Kia causaram uma alta nos preços das ações de ambas. Em fevereiro, porém, as duas empresas negaram estar em negociação com a Apple, causando uma queda de 6,21% nas ações da Hyundai e 15% nas ações da Kia.
As duas maiores empresas do ramo automotivo, Toyota e Volkswagen, até se pronunciaram sobre a possibilidade de a Apple entrar no mercado. Akio Toyoda, presidente da Toyota, disse que a Apple “tem potencial de soprar vida nova na indústria e dar aos consumidores mais opções de escolha”, mas lembrou logo que a indústria automotiva é mais difícil do que parece. Afirmou que é preciso haver comprometimento da companhia para se responsabilizar por todo o ciclo de vida de seus carros, da manutenção à transformação em sucata, o que significaria assumir um compromisso de décadas.
”Depois de fazer um veículo, gostaria que eles estivessem preparados para lidar com os clientes e várias mudanças por cerca de 40 anos”, disse o presidente da Toyota sobre a possível entrada da Apple no segmento.
Já o CEO da Volkswagen, Herbert Diess, declarou a um jornal alemão que o setor automotivo e o de tecnologia são diferentes e que a Apple não conseguirá tomar o primeiro “da noite para o dia”.
SERÁ QUE VAI DAR CERTO?
Apesar de toda a falação, o futuro do carro da Apple ainda parece incerto. Uma reportagem do site Bloomberg afirma que não devemos esperar um lançamento antes de 2026. A publicação também diz, no entanto, que o projeto consiste em criar o carro inteiro, não apenas o software, embora este objetivo ainda esteja distante. “No total, a Apple tem centenas de engenheiros trabalhando no projeto, com a maioria desenvolvendo o sistema de direção autônoma em vez do veículo em si”, diz o texto.
Será que o carro da Apple vai se concretizar? Enquanto a empresa não se pronunciar oficialmente, não poderemos dizer com certeza. Já houve rumores fortes de que a Apple entraria nos mercados de videogames e de smart TVs e nenhum deles se concretizou. Então é possível que, sim, o projeto nunca saia da fase de pesquisa.
Mas não se surpreenda se, daqui a cinco anos, você estiver dentro de um iCar branco, com os braços cruzados atrás da cabeça enquanto ouve música e o sistema autônomo o leva sozinho para seu destino. É como diria Steve Jobs: “o melhor jeito de prever o futuro é inventá-lo”.