Nove fatos para entender o 1º ano da Stellantis e o que está por vir

Valorização das ações da empresa foi maior do que as da Tesla. No Brasil, companhia deteve um terço do mercado

Bruno de Oliveira

Bruno de Oliveira

Valorização das ações da empresa foi maior do que as da Tesla. No Brasil, companhia deteve um terço do mercado

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A Stellantis, fusão das antigas FCA – Fiat Chrysler Automóveis com o Grupo PSA, completou um ano na quarta-feira, 19, e em termos operacionais há o que se comemorar. A empresa chega em seu aniversário líder no mercado brasileiro de automóveis e comerciais leves e uma das razões que viabilizaram o desempenho foi a sinergia entre as subsidiárias, que garantiu o abastecimento de componentes no ano passado em meio à crise dos semicondutores.

“A questão dos semicondutores realmente foi um diferencial no ano passado, uma vez que as fábricas do grupo foram as que menos pararam de produzir na comparação com as demais”, diz Marcus Ayres, analista da Roland Berger. O especialista prossegue:

“Seguir produzindo e atendendo o mercado, enquanto as outras empresas não tinham produto disponível, foi fundamental para as marcas da Stellantis aumentarem sua participação de mercado.”

Em 2021 a Stellantis teve presença dominante na lista de veículos mais vendidos do país e conseguiu um feito inédito: tornar uma picape líder de mercado, com a Fiat Strada. A lista dos mais licenciados contou ainda com os modelos Fiat Argo, Jeep Renegade, Jeep Compass e o Fiat Mobi. Os dados da Fenabrave mostram a liderança do mercado de automóveis e comerciais leves nas mãos da Fiat, com 21,8% de market share. A Jeep deteve fatia de 7,5%.

Passado o 1º ano, o que está por vir?

Passado o primeiro ano da fusão, 2022 deve ser marcado por um segundo momento pós-integração das sinergias entre as marcas, aponta o analista, a empresa deverá focar seus esforços no fortalecimento das marcas francesas no mercado interno, bem como iniciar uma oferta maior de serviços de mobilidade, assim como a companhia já faz em outros mercados globalmente.

“A pergunta que fica é o que vem na frente. Em março o CEO Carlos Tavares irá anunciar o programa de longo-prazo da companhia que deverá ter um foco muito maior em inovação e soluções sustentáveis. Olhando para o Brasil, o Antonio Filosa [diretor de operações na América do Sul] já anunciou que este será o ano dos franceses. Então deverá haver um foco muito grande da companhia na aceleração das marcas do braço francês do grupo”, explicou Ayres.

Esta movimentação já pôde ser vista no segundo semestre do ano passado, quando a empresa lançou uma série de modelos elétricos, como o Peugeot e-208 GT e os comerciais Citroën e-Jumpy e Peugeot e-Expert. Para este ano é esperada a nova geração do Citroën C3, que será produzida na fábrica que a empresa mantém em Porto Real (RJ).

No âmbito global a empresa viu a cotação de suas ações listadas na Bolsa de Valores de Nova York subiram em proporção maior do que as da Tesla, por exemplo, chegando a uma apreciação de 60% na comparação com os valores da inauguração, em 18 de janeiro do ano passado. A expectativa dos analistas é de que o desempenho da empresa melhore ainda mais após processo de reestruturação das operações na Europa e na Ásia – potencializar a operação no país asiático, inclusive, é um dos focos para 2022 .

Está previsto para 1º de março o anúncio do plano estratégico da companhia para os próximos anos, que deverá envolver serviços baseados em tecnologia, afora um amplo portfólio formado por modelos elétricos. Nesse sentido, a empresa firmou nos últimos meses parcerias com companhias como Amazon, BMW, Foxconn e Waymo para desenvolver principalmente sistemas veiculares.

Confira a lista dos principais movimentos da Stellantis em seu primeiro ano de história, que devem continuar a repercutir no futuro:

1- Mais do que carros, Stellantis também faz software

Em dezembro de 2021, a organização anunciou que passará a ser também uma provedora de software. As ambições não são nada modestas: o objetivo é que o novo negócio gere US$ 23 bilhões em receitas até 2026. Para isso, a companhia vai desenvolver três plataformas com sistemas de inteligência artificial.

2 – Carro elétrico made in Brazil

Ainda que a empresa não confirme, há indícios de que a Stellantis passe a produzir no Brasil veículos elétricos e híbridos. Reportagem do site Autos Segredos aponta que o grupo fará no Polo Automotivo Fiat, em Betim (MG), motores Firefly com tecnologia híbrida e propulsores 100% elétricos, que deverão equipar os primeiros veículos entre 2024 e 2025.

3 – De olho no futuro com € 30 bi para eletrificar

Enquanto o plano nacional ainda precisa ser confirmado, globalmente a companhia já reservou € 30 bilhões para eletrificar sua gama de veículos, desenvolver software e sistemas de condução autônoma. O aporte será feito até 2025. A meta é garantir a liderança nas vendas de veículos de baixa emissão na Europa e nos Estados Unidos até 2030.

4 – Novos modelos já rendem frutos

Em 2021, a recém-nascida Stellantis já teve dois lançamentos importantes no mercado brasileiro que devem contribuir para a boa posição no mercado em 2022. Fabricado em Pernambuco, o Jeep Commander chegou ao mercado em agosto com a meta de liderar o mercado de utilitários esportivos grandes. Em outubro foi a vez do Fiat Pulse, que marcou a entrada da montadora italiana no segmento de SUVs compactos e já garante fatia relevante para um carro recém-chegado ao mercado – foi o 15º veículo leve mais vendido em dezembro.

5 – O primeiro elétrico a gente nunca esquece

Enfim a estreia da Fiat no segmento de veículos elétricos aconteceu. A marca começou a vender o Fiat 500e no Brasil por R$ 240 mil e, ainda que restrita a um público endinheirado, a companhia dá os primeiros passos nesse novo mercado. Em paralelo, a empresa começou a oferecer o Peugeot e-208 GT, hatchback com a tecnologia que chegou por R$ 255 mil.

Como parte do que a companhia chamou de ofensiva de elétricos, houve espaço ainda para a chegada dos utilitários Peugeot e-Expert e Citroën ë-Jumpy ao mercado brasileiro.

6 – Pós-venda preparado

Para acompanhar a gama de veículos eletrificados, a Stellantis anúnciou em 2021 a instalação de e-center as fábricas de Betim (MG) e Goiana (PE), além de concessionárias Peugeot e Citroën. São estruturas de seviço de pós-venda para todos os modelos elétricos do grupo.

7 – Crise dos semicondutores mais próxima no fim

Após um ano de gestão minuciosa dos suprimentos por causa da falta de semicondutores, a companhia diz que o pior da crise ficou para trás, apesar de admitir que o problema não foi totalmente superado. Diante do momento mais favorável, a organização trouxe de volta à fábrica de Betim (MG) metade dos 1,8 mil colaboradores que estavam em layoff.

9 – Em 2022, Stellantis vai trabalhar à francesa

Com as movimentações de seu primeiro ano de história, a Stellantis foi responsável por mais de um terço das vendas de veículos do Brasil. O plano é manter o pique em 2022, mas dessa vez ccom o cresccimento apoiado nas francesas Peugeot e Citroën – esta segunda responsável pelo principal lançamento da companhia para este ano, o novo C3. O objetivo é transmitir o sucesso da Fiat e da Jeep às outras marcas do grupo.