Carlos Tavares contou como a montadora se preparou para atravessar qualquer tipo de tempestade e permanecer lucrativa
A Stellantis, fusão entre as antigas Fiat Chrysler Automóveis e Grupo PSA, alcançou resultados financeiros recorde em 2021, primeiro ano de operação da companhia. Carlos Tavares, CEO global da organização, garante que a empresa está preparada para novos saltos nos próximos anos, independentemente das instabilidades globais.
Leia também:
– Stellantis revela plano para dobrar receitas e chegar à neutralidade de carbono
– Em seu 1º ano, Stellantis multiplica lucro com a ajuda da América do Sul
– Stellantis prepara modelo híbrido a etanol para o mercado brasileiro
– Estes são os mais de 50 carros que Stellantis lançará no Brasil até 2025
“Estamos prontos para atravessar qualquer tipo de tempestade sem que o navio afunde”, disse o executivo em visita ao Brasil, durante conversa com jornalistas da América Latina na quinta-feira, 17. Segundo ele, o segredo para isso está em manter o breakeven – ou ponto de equilíbrio de negócio, em que as receitas cobrem os custos – muito baixo.
“O nosso breakeven é inferior a 50% das nossas receitas. Isso quer dizer que podemos perder metade do nosso faturamento de uma hora para outra e, ainda assim, continuaremos rentáveis”, esclarece Tavares.
Ele destaca que isso coloca a Stellantis em posição de vantagem diante da maior parte dos concorrentes, com mais resiliênciado do que uma série de outras montadoras. “Mas não há segredo ou mágica por trás da estratégia, apenas muito trabalho, esforço constante e foco em otimização”, aponta.
Segundo ele, prova desse resultado foram os € 3,2 bilhões em sinergias gerados pela companhia em seu primeiro ano, com otimização de fábricas e melhor aproveitamento de fornecedores das duas montadoras que deram origem ao grupo, conforme a empresa apontou em seu balanço financeiro. “Superamos as expectativas para o primeiro ano e vamos chegar a € 5 bilhões em sinergias em 2022”, afirma.
Para ser eficiente, muitas vezes é preciso ser impopular
Tavares lembra que se comprometeu em manter a companhia com pelo menos 10% de rentabilidade todos os anos até 2030, apesar da necessidade de investir em novas tecnologias. Além do constante esforço interno, ele admite que isso tem um outro custo:
“Muitas vezes precisamos tomar decisões que não são populares. Mas assumimos essa impopularidade para proteger a rentabilidade porque entendemos que, no futuro, isso evitará um impacto social maior, já que a empresa continuará de pé”, diz, afirmando que essa também é parte da responsabilidade social da companhia.
Guerra na Ucrânia é principal preocupação
Com essa postura, Tavares garante que a Stellantis está preparada para navegar desafios como a pandemia, a falta de semicondutores para produzir veículos e, até mesmo, as dificuldades impostas pela guerra na Ucrânia. Segundo ele, esta última é a maior preocupação atual da companhia porque, além da questão econômica, traz a angústia em relação ao aspecto humanitário.
“Não há hesitação, nossa maior preocupação é com o conflito porque não há desafio econômico que seja mais importante do que a preocupação humana diante de uma guerra que pode se tornar mundial”, aponta, enfatizando a importância de resolver o conflito de forma diplomática.
Falta de peças impede produção de 2 milhões de carros por ano
Ainda assim, o CEO reconhece que a falta de semicondutores para produzir veículos segue como uma pedra no sapato da indústria automotiva. Segundo ele, a Stellantis tem capacidade global para fabricar 8 milhões de carros por ano, mas tem sua operação atualmente limitada a 6 milhões de unidades por causa da escassez de componentes.
“A questão dos semicondutores é crítica porque não conseguimos elevar o nosso ritmo, mas ainda assim a nossa empresa é perfeitamente sustentável mesmo quando opera com 2 milhões de veículos abaixo da capacidade”, diz.
Segundo ele, a escassez de chips eletrônicos vai persistir ao longo de 2022 e só tende a apresentar melhora significativa depois de 2023, conforme novas fábricas de semicondutores entrarem em operação na Europa e nos Estados Unidos, fruto de investimentos feitos durante a pandemia.
O executivo também indicou preocupação com o custo das matérias-primas, que está em ascensão, e, também puxado por isso, com a inflação global. Segundo ele, o movimento é fomentado pelo desequilíbrio entre oferta e demanda – descompasso estimulado também pela falta de semicondutores.
“Uma vez que a inflação se instala, a única forma de combate-la é com o aumento da taxa de juros. Mas ao elevar o custo para se contrair uma dívida, criamos um contexto de austeridade e instabilidade social que não é favorável ao desenvolvimento das economias” alerta o executivo.
Segundo ele, governos e gestores ao redor do mundo precisam focar na criação de riqueza, não em novas instabilidades.