Ford fecha 2022 como queria: vendas menores e no lucro

No primeiro ano completo após o fechamento das fábricas no Brasil, montadora apostou em reposicionamento e enfrentou gargalos logísticos

Bruno de Oliveira

Bruno de Oliveira

No primeiro ano completo após o fechamento das fábricas no Brasil, montadora apostou em reposicionamento e enfrentou gargalos logísticos

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O ano passado foi o primeiro ano cheio da operação da Ford na região já com sua nova configuração, importando veículos em vez de produzi-los localmente. No período, a empresa conseguiu atingir pelo menos os seus objetivos mais urgentes, no caso, renovar a oferta e voltar ao lucro. Mas, e o mercado?

Nesse campo a montadora viu o número de emplacamentos de automóveis reduzir 82% no ano passado, na comparação com 2021, somando 3,1 mil unidades licenciadas. “A queda parece alarmante, mas é reflexo esperado da saída do SUV Ecosport e do compacto Ka, que eram modelos nacionais e de volume, do seu line-up”, disse Cassio Pagliarini, da Bright Consulting.


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Se em 2019, antes da pandemia, a montadora vendia 218,5 mil veículos, dentre automóveis e comerciais leves, em 2022 esse número foi de 20,5 mil unidades. O volume é 44,8% inferior ao de 2021 e impressionantes 90% menor que o registrado no pré-pandemia, segundo os dados do Renavam divulgados pela Fenabrave. Ou, ainda, correspondeu a 9% das vendas realizadas há três anos.

Diferentemente do que pode parecer, a queda drástica é uma notícia boa para a marca, que trocou volume por lucro no Brasil, conforme destacou o próprio presidente da Ford Brasil no encontro de fim de ano com a imprensa: “Estamos com operação saudável na região. Isso nos dá espaço para pleitear lançamentos.”

Modelos com tíquete maior e foco em lucratividade

Se por um lado saíram do mercado o Ka e o Ecosport, entraram em cena os SUVs Territory e Bronco, além do esportivo Mustang. A troca de atores, além do fechamento das fábricas no Brasil, foi fator essencial para a companhia garantir que a última linha de seu balanço financeiro da região ficasse no azul. Afora o fato de serem modelos posicionados no segmento de alta gama, ou seja, com tíquetes acima dos R$ 200 mil, uma particularidade do perfil de consumo nesta faixa também favoreceu a empresa.

“Mesmo com queda nas vendas, a Ford teve um resultado positivo na região com um portfólio menor formado por veículos de alta margem operacional. Segmentos inclusive que foram menos afetados nos últimos anos com a queda do poder de compra do consumidor e restrições de crédito”, disse o consultor Fernando Trujillo, da S&P Global.

Segundo dados do Renavam, as vendas do Territory e do Mustang caíram entre 2021 e 2022. No caso do SUV, o volume de licenciamentos foi de 2,2 mil unidades para 978 unidades, no período. Como se tratam de modelos importados (China e Estados Unidos, respectivamente), é de se supor que os gargalos logísticos tenham afetado as entregas.

As vendas do Ford Bronco, que é importado do México, no ano passado somaram 1.583 mil unidades, o 32º maior volume do concorrido mercado nacional de SUVs. Em seu ano de estreia, em 2021, as vendas chegaram a 1,050 mil unidades.

Recúo nas vendas de modelos comerciais

Também recuaram as vendas dos modelos comerciais da marca, no caso, a van Transit e a picape Ranger, os únicos veículos produzidos pela empresa na América do Sul. A uruguaia Transit, lançada no final de 2021, emplacou no ano passado 2 mil unidades, o 6º maior volume na lista de licenciamentos na categoria.

“É um volume considerável puxado pelas demandas das entregas urbanas, que cresceram nos últimos anos”, disse David Wong, da consultoria Alvarez&Marsal. “O mesmo já não podemos falar da picape Ranger, que vendeu menos por causa das limitações da rede.”

A argentina Ford Ranger, o best-seller da montadora na região, vendeu menos no comparativo 2021-2022. Até dezembro, foram 14,3 mil unidades, contra 20,5 mil registradas em 2021. Para Wong, é possível que o redesenho da rede de concessionárias da marca tenha refletido na escolha do consumidor, considerando que, hoje, há menos lojas do que antes.

“Não se pode dizer que no caso da Ranger e da Maverick foi algo ligado à falta de semicondutores. Os volumes são menores, e são veículos importados. A venda caiu também por causa da rede de concessionárias menor, e o consumidor deste tipo de veículo prefere uma maior cobertura”, contou Wong.

De acordo com os números do Renavam, os emplacamentos da picape Maverick somaram, até dezembro, 1,3 mil unidades, ao 10º modelo mais vendido na categoria picapes grandes, da Fenabrave.