Estudo da Roland Berger e da Lazard mostra que volume global se manterá ainda abaixo do patamar de 2018 nos próximos anos
A indústria automotiva até já engoliu os efeitos da pandemia. Mas o gosto amargo de Biotônico Fontoura ainda vai perdurar no setor por muitos anos. Aquele volume de produção de veículos pré-Covid? Só depois de 2025.
O cenário ainda nebuloso é resultado do mais recente estudo da Roland Berger e da Lazard. A pesquisa mostra que, apesar da evolução bem discreta do setor nos últimos anos, a produção de veículos se recuperará “apenas moderadamente” no curto prazo.
Produção de veículos ainda estagnada
De acordo com o estudo, o segmento automotivo deve fechar 2022 com 80,6 milhões de unidades (os dados do quarto trimestre ainda não haviam sido consolidados quando a pesquisa foi concluída). A projeção para 2023 aponta produção de 84,9 milhões de veículos.
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Diante disso, a fabricação de automóveis novos deve seguir abaixo do patamar de 2018. Naquele ano, foram 94,2 milhões de unidades.
Na análise da Roland Berger e da Lazard, a indústria automotiva não conseguirá retornar aos níveis pré-pandêmicos até 2025. Isso com base no fato de que o setor registrou seu terceiro ano consecutivo sem recuperação expressiva de volumes.
Recuperação pode ficar para a próxima década
Além disso, o estudo considera também o cenário futuro ainda de gargalos logísticos e de expectativa de instabilidade econômica mundial. Inclusive, a volta aos níveis de produção de veículos antes da pandemia pode ocorrer só lá para 2030 e uma projeção menos otimista.
“Na perspectiva de uma recessão global, no entanto, estes níveis podem ser retomados só daqui a alguns anos, mas não antes da próxima década, no mais restritivos dos cenários”, alerta o relatório publicado pelas duas empresas.
A pesquisa tem por base os balanços das montadoras com receita anual entre € 0,5 bilhão e € 10 bilhões. Entram neste recorte grupos automotivos como Volkswagen, BMW, Mercedes-Benz, General Motors, Ford, Toyota e Hyundai.
O estudo também considerou dados financeiros de empresas de elos importantes da cadeia automotiva: autopeças, transporte marítimo e semicondutores.
Perspectivas pouco animadoras para 2023
O levantamento da Roland Berger e da Lazard sugere que 2023 repetirá 2022 no âmbito de produção e comercialização de veículos. Os principais fatores para esse cenário de retração são demanda reduzida e deterioração das margens.
A perda de rentabilidade tem razão principalmente no aumento dos custos com matérias-primas, energia e semicondutores. Uma “inflação” puxada pela Covid-19 e pela guerra na Ucrânia, que permanece sem perspectiva de baixar no curto prazo.
Ao mesmo tempo, o aumento dos juros pelos bancos centrais de todo mundo para conter a inflação restringem o acesso ao crédito para compra de automóveis. O que impacta as montadoras em um momento no qual precisam financiar a eletrificação de suas linhas.
Outro fator que pode limitar a recuperação na produção de veículos, segundo a análise, é a diminuição da oferta de mão de obra especializada. As vagas dos profissionais especializados demitidos do início da pandemia não foram repostas. E os novos quadros não têm a qualificação necessária para produção de veículos elétricos.
A continuidade da política chinesa de “Covid Zero” também devem impactar a indústria de automóveis. O que pode significar 1,5 milhão de unidades a menos nas linhas de produção de veículos a curto prazo.
Nova guerra derrubaria produção de veículos
Para piorar ainda mais as perspectivas, ainda tem a iminência de um conflito entre China e Taiwan. Uma guerra entre as duas nações, na visão das consultorias, teria efeito catastrófico para o setor.
O conflito, embora ainda apontado como “pouco provável”, poderia derrubar a produção de veículos em até 90%. Lembre-se que Tawain responde por metade da produção global de semicondutores e por 70% dos microcontroladores automotivos.
Margens de lucro sob pressão
A pesquisa prevê que as margens das montadoras devem seguir sob pressão. Entre as fabricantes analisadas, a margem EBIT (lucro deduzido de juros e impostos) média foi projetada para 2022 num intervalo muito próximo aos 5,3% alcançados em 2021.
A título de comparação, as autopeças devem entregar em 2022 margem EBIT média superior aos 9,1% de 2021. Graças à demanda por peças, principalmente, de reposição.
“Se as OEMs estão conseguindo repassar custos às fabricantes, estas, por sua vez, não estão em posição de fazer o mesmo com seus clientes”, aponta o relatório.
Por esta razão, as consultorias acreditam que as fabricantes de veículos devem manter o foco nos modelos com as melhores margens e cancelar descontos ao consumidor. Além disso, a montadoras devem continuar a buscar a “desglobalização” de suas cadeias, uma forma de se blindar em relação a possíveis “disrupções” regionais.