Redução da Taxa Selic é vista pelas fabricantes de veículos como vetor de vendas maiores no país
Aumentam os indícios de que governo federal e montadoras voltaram a falar o mesmo idioma, após quatro anos de pouco diálogo entre as partes. Em janeiro, a entidade que as representam, a Anfavea, apontou a falta de crédito como principal entrave às vendas de veículos zero quilômetro no país. Em fevereiro, o presidente da república aumenta o tom das críticas sobre o patamar da taxa Selic e seu reflexo no desaquecimento do consumo à prazo.
Não é possível afirmar que há uma coordenação, mas não restam dúvidas de que, pelo menos, há certo alinhamento entre as agendas da indústria, setor ao qual as fabricantes de veículos pertencem, e a do poder executivo. A presidência parece saber que o crescimento de determinados setores dependem de crédito acessível e, portanto, passou a exercer pressão no Banco Central para que o atual porcentual de 13,75% da selic seja reduzido para, em tese, aquecer o consumo.
Montadoras buscaram retomar diálogo com o governo
O aceno de Brasília a essa demanda específica das fabricantes ocorre porque, dentre outras coisas, houve esforços para que o governo e as empresas se aproximassem outra vez. Do meio do ano passado pra cá, diversas reuniões foram realizadas. Em encontros na capital federal, propostas sobre assuntos fiscais e, de novo, sobre crédito, foram formalmente apresentadas a atual equipe técnica do governo.
A volta do Ministério da Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), um pleito urgente da indústria, mostrou que os laços foram reestabelecidos. A presença de representantes da Anfavea na posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na de alguns ministros, na do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, e na turnê da comitiva brasileira na Argentina e no Uruguai, também.
“Se nós queremos crescer, retomar a industrialização, com essa taxa de juros não será possível. Talvez haja espaço para adequação, os bancos projetam uma selic menor. Estamos falando de 1,2 milhão de empregos do nosso setor. Não dá pra desvincular as duas coisas, crescimento do setor e taxa de juros. É importante que este debate esteja na mesa. O que mais desejamos é que o pedido do presidente ocorra no menor tempo possível”, disse Marcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, na terça-feira, 7, dando sequência ao discurso iniciado em janeiro.
Outros assuntos também entraram nas discussões
Na esteira do bom momento entre os interlocutores, as montadoras tentam emplacar outros assuntos na mesa de discussão, como a possibilidade de se criar um arranjo fiscal que estimule a produção local de veículos com powertrain eletrificado — e que restrinja as importações desse modelos. Na terça-feira, o presidente da Anfavea confirmou que a entidade defende o aumento do Imposto de Importação de veículos elétricos de forma a incentivar o produto Made in Brazil.
“A Anfavea defende a produção local. Defendemos a alíquota que há para todas as tecnologias. O que nós discutimos é previsibilidade. Quando isso [aumento da alíquota] vai se dar? Não estamos falando que isso deve ocorrer hoje ou em julho. O que está em discussão é que a alíquota zero não pode inibir investimentos na produção dessa tecnologia [elétrica] no Brasil. Nós precisamos criar essa produção. Hoje há uma regra que não tem data e isso acaba postergando os investimentos”, contou Leite durante a transmissão ao vivo realizada, inclusive, em Brasília.
A proximidade com o poder público, aliás, é uma das bandeiras da atual gestão da Anfavea. Tão logo assumiu o cargo, no início de 2022, o presidente afirmou que uma de suas metas era aproximar a entidade do executivo e do legislativo. Uma proximidade que, hoje, também é física. Na terça-feira foi apresentada a nova sede da associação na capital federal, uma casa de alto padrão situada no Lago Sul, área nobre da capital próxima ao aeroporto Juscelino kubitschek. Antes, representantes da entidade trabalhavam na cidade de uma sala comercial na Asa Sul.