Como o Nivus quebrou regras e dita tendências de design da VW

José Carlos Pavone teve liberdade para desenvolver SUV cupê que hoje é vendido na Europa e virou case de sucesso dentro do grupo

Vitor Matsubara

Vitor Matsubara

José Carlos Pavone teve liberdade para desenvolver SUV cupê que hoje é vendido na Europa e virou case de sucesso dentro do grupo

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É difícil não parar por alguns minutos para admirar o Nivus ao vê-lo pela primeira vez. Porém, pouca gente sabe que o SUV cupê da Volkswagen é uma criação 100% brasileira. Quem assina os traços é José Carlos Pavone, chefe de design da marca alemã desde 2016, que se orgulha de ter emplacado um produto que fugia completamente dos rígidos padrões globais da VW.

“Eu queria fazer algo diferente de tudo que havia em nossa gama. Um produto mais focado na imagem poderia quebrar algumas regras de ergonomia e visibilidade específicas de alguns segmentos. Foi aí que conseguimos colocar um vidro traseiro menor e um recorte mais alto da tampa do porta-malas, que virou uma regra dentro do design global da Volkswagen”, diz Pavone.

Fora da curva

A “rebeldia”, aliás, começou antes mesmo dos primeiros esboços. O projeto do Nivus só virou realidade graças a um pedido da área de produto da Volkswagen.

“Nós já tínhamos discutido claramente toda a linha de MQB, com um hatchback (Polo), um sedã (Virtus) e um SUV (T-Cross). As ideias estavam bastante cristalinas, mas a área de planejamento de produto nos pediu um novo veículo. A vantagem da nossa área (design) em relação aos demais é que eles precisam pensar em custos, logística e outras variáveis, mas nenhuma delas consegue visualizar o produto e mostrar possibilidades como nós˜.

Só que a ideia inicial era bem mais simples do que desenvolver um produto inédito dentro da gama da fabricante, algo que foi prontamente rechaçado pelo designer.

“Muito se falava em um ‘CrossPolo’ com peças aplicadas, mas eu descartei porque queria fazer um carro completamente novo”, lembra Pavone.

Foi assim que a equipe brasileira começou a trabalhar no projeto que resultaria no Nivus. O time de Pavone fez um trabalho bastante competente utilizando algumas peças do Polo sem que muita gente percebesse. Inclusive, nem os executivos da Alemanha conseguiram notar o parentesco sutil.

“Aproveitamos algumas partes do Polo, como as portas, mas isso não matou a ideia de ter um carro com estilo cupê. Nós já tínhamos carros funcionais com papéis claros em nosso portfólio, então o Nivus poderia ser mais ‘livre’. E isso influencia na forma como você enxerga o carro”, diz o executivo.

Inspiração no luxo

Pavone diz que sempre foi a favor de “democratizar um bom design”, independentemente da categoria ou do preço do produto. O designer cita como exemplo desse pensamento o Gol, que saiu de linha em 2022 depois de 42 anos.

“Lá atrás, a Volkswagen fez o Gol e todo mundo copiou. Eu brinco que hoje existe o Gol da Ford, o Gol da GM, o Gol da Renault… Mas acho que esse tipo de design (hatchback compacto) se popularizou mesmo”.


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No caso do Nivus, a inspiração foram os SUVs cupês comercializados pelas marcas de luxo, como BMW X6 e Mercedes-Benz GLE Coupé.

“Claro que não foi nenhuma reinvenção da roda, mas eu via a galera pirando nesses carros e pensei que seria interessante trazer uma tipologia de carro tão desejada para um segmento mais acessível”, afirma.

Durante o desenvolvimento do projeto, Pavone motivava seu time dizendo que precisavam “fazer um carro que o cara vai colar o nariz no vidro e querer levá-lo para casa porque ele é bonito”. Parece que deu certo: hoje o principal motivo de compra do Nivus é o design. “As pessoas qolham e desejam esse carro”, diz.

Respeito aos ícones 

Antes de voltar para o Brasil, Pavone teve três anos de experiência nos Estados Unidos, onde trabalhava no centro de design da VW na Califórnia. Lá ele cuidou de alguns projetos importantes – para o mercado norte-americano e outros também.

“Influenciei muito o T-Roc (SUV médio com pegada mais esportiva vendido na Europa). Fiz o desenho original e queria um SUV com coluna ‘C’ de Golf e os para-lamas de Beetle. Era uma ideia muito simples, tanto é que sobrou alguma coisa do showcar no produto final. Desenhei o Passat americano e foi uma faculdade para mim de como desenhar um carro e como são todos os processos. Só que aquilo não reflete muito o que eu pensava como designer – até porque eu era muito novo, tinha 26 ou 27 anos”.


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O chefe de design da VW diz que sempre procurou “fugir um pouco” da linha tênue que separam os modelos “normais”dos grandes ícones da marca.

“Esses ícones são difíceis (de desenhar), tirando exemplos como o ID Buzz. Você bate o olho e vê que é futurista e que é uma Kombi. É difícil isso acontecer. O New Beetle é um bom exemplo. Até hoje eu acho bonito – mais, inclusive, do que o último por ser mais compacto e mais simpático. E simpatia é um valor importante do design da VW”.


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Pensando no futuro 

Perguntado sobre o planejamento de futuros modelos, Pavone diz que a equipe precisa sempre pensar à frente do tempo.

“Normalmente a gente trabalha em um prazo de cinco anos para frente. Hoje temos projetos que já estou trabalhando para 2027 ou 2028. É difícil extrapolar mais do que isso, até porque existem inúmeras forças que podem mudar no mercado, desde comportamento até matriz energética. Aí você entra em um território difícil de ser previsto”.

O designer afirma que o processo de reestilização de um produto é mais complexo do que parece.

“Fazer um carro novo é difícil porque, em tese, todas as melhores ideias já estão lá. Se você fizer um facelift e propuser uma mudança visual muito dramática, talvez ela não faça sentido. Geralmente as mudanças dramáticas de farol e grade vem no flagship (modelo mais caro e sofisticado da gama) e depois vão descendo para os outros produtos. O facelift precisa melhorar o desenho do carro anterior e estar de acordo com os demais carros que estarão convivendo com ele”, conclui.

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