Programa também quer subir ainda mais o sarrafo em termos de eficiência energética dos veículos produzidos no Brasil
Uso da metodologia do poço à roda e maior incentivo à pesquisa e desenvolvimento a fim de fazer com que a engenharia volte a ser predominante no Brasil. Estes são dois dos principais objetivos da nova fase do Rota 2030, que irá vigorar até 2027. Além disso, o programa pretende impor melhoria acima de 12% em termos de eficiência energética aos veículos produzidos no Brasil.
O tema foi debatido no Up Next, evento com ênfase em planejamento estratégico, organizado por Automotive Business no último dia 25. Participaram da discussão Marcus Vinicius Aguiar, presidente da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), Murilo Briganti, Chief Product Officer da Bright ISD Consulting, e Gustavo Victor, diretor-substituto do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
De acordo com Victor, o texto da próxima fase do Rota 2030 deverá ser fechado em âmbito técnico até junho. “Depois disso entra a parte política da questão, quando o tema vai passa pelo Congresso e vai para sanção presidencial. Aí já não conseguimos controlar mais prazos”, comenta o integrante do MDIC.
Dentro da nova etapa do programa, a pasta comandada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin crê que já adotará o critério de cálculo de emissões do poço à roda – que, aliás, teve cartilha publicada pela AEA no ano passado. “Temos de ter uma política de Estado e não de governo. Isso enriquece a nossa indústria e pode potencializar as possibilidades que temos no nosso mercado. É uma oportunidade única de sermos o primeiro país, nessa fase dois, a tratar da eficiência energética do poço à roda”, frisou Murilo Briganti, da Bright ISD Consulting.
Segundo Gustavo Victor, o MDIC já traça estratégias a fim de definir um índice de reciclabilidade dos materias dos veículos produzidos. Dessa forma, a nova fase do Rota 2030 já olharia para o fim da vida dos produtos, com o objetivo de incluir a indústria automotiva na economia circular.
“A ideia é colocar como um requisito obrigatório de que os veículos novos produzidos atendam a um percentual de reciclabilidade. A gente verifica que é algo há bastante tempo utilizado na União Europeia, onde creio que, hoje, cerca de 80% dos materiais do veículo têm que ser recicláveis”, destaca Victor.
Incentivo à pesquisa e desenvolvimento
Se outrora o foco do engenheiro era somente no produto, agora as atenções também terão de ser dadas ao ciclo de vida dos veículos. Para tal, a nova fase do Rota 2030 também pretende incentivar pesquisa e desenvolvimento, cruciais para a evolução da engenharia nacional.
“O Brasil já vem demonstrando, desde o Inovar-Auto, esse foco na questão de pesquisa e desenvolvimento e depois no Rota 2030. Agora, na segunda etapa, vamos ter essa fase de pesquisa e desenvolvimento a ser implementada. Isso é importante, pois você traz know-how para a engenharia brasileira, para a universidade, para as montadoras e para os fornecedores”, destacou Marcus Vinicius Aguiar.
O presidente da AEA crê que este seja, de fato, o grande diferencial. “Você não traz somente obrigações para os fabricantes de veículos, mas também toda a questão de trazer o desenvolvimento e o know-how para o Brasil – assim como aconteceu com o flex e outras tecnologias nossas que hoje são referência”, complementou o presidente da AEA.
MAIS DO UP NEXT 2023:
– Taxa de juros proibitiva atravanca crescimento de veículos leves– Maioria do setor automotivo já revisou planos com foco em veículos eletrificados– Parcerias entre players lideram infraestrutura para veículos elétricos no Brasil
Para Briganti, encetar a utilização do critério do poço à roda é “uma base de transição para começar a tratar do “berço ao túmulo” – isso é, desde a produção do veículo, passando por toda a matéria-prima utilizada até a reciclagem. Todo esse movimento vai nos permitir migrar para a descarbonização da nossa indústria”.
Nova fase do Rota 2030 irá impor melhorias substanciais em eficiência energética
A expectativa era de que a segunda etapa do Rota 2030 fosse impor melhoria de 8% a 12% em termos de consumo de combustível e emissões de poluentes das frotas das montadoras. No entanto, de acordo com Gustavo Victor, embora ainda não tenha sido definida, a meta certamente ficará acima da porcentagem esperada.
“A gente estima que [a meta] deva ser maior que esses 8% a 12%. Essa segunda etapa do Rota é um passo que teremos rumo ao nosso objetivo principal que é, em 2030, ter 50% de melhoria de eficiência energética comparado com o baseline de 2005. Essa penúltima fase seria um step para chegarmos a esse objetivo final”, garantiu.
– Faça aqui a sua inscrição no #ABX23 e garanta sua presença no maior encontro do setor automotivo
Esse degrau também passa pelo programa de renovação da frota rodoviária do país, que garantiria redução de emissões considerável ao retirar das ruas “veículos que não atendam aos parâmetros técnicos de rodagem ou que tenham mais de 30 anos de fabricação”.
“O [programa] Renovar está passando por uma revisão e regulamentação. Esperamos que no primeiro semestre tenhamos isso publicado. Ele está diretamente ligado ao Rota, não para esta segunda fase, mas sim para a terceira etapa. Temos que primeiro analisar e estudar a metodologia para fazer essa verificação de emissões ao longo de toda a vida útil do veículos”, explicou o diretor do MDIC.
Rota 2030 não é “algo isolado”
Embora as expectativas pela nova fase do Rota 2030 sejam altas, não é apenas esta iniciativa que será determinante para reduzir as emissões da frota nacional. “As montadoras estabelecidas aqui têm que cumprir outros requisitos técnicos com relação à emissões de poluentes. Então, você tem que calibrar seu veículo para que ele obtenha a melhor eficiência energética possível, mas, ao mesmo tempo, cumprir os regulamentos vigentes no Brasil”, destacou Marcus Vinicius Aguiar.
O presidente da AEA ressaltou ainda a importância das demais iniciativas, que devem trabalhar em uníssono. Aguiar falou, por exemplo, do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores: o Proconve, que está em sua sétima fase. “O alerta é: não podemos olhar para o Rota 2030 como algo isolado”, enfatizou.
“O que tivemos ano passado, por exemplo, com o L7 e o que nós vamos ter com o L8 nos próximos anos também irá influenciar no desenvolvimento de veículos e motores no Brasil. Temos que ter uma calibragem, colocar tudo no mesmo cesto, no mesmo conjunto”, completou Aguiar.
ASSISTA A TODO O CONTEÚDO DO UP NEXT NO NOSSO CANAL NO YOUTUBE
A cobertura do Up Next é patrocinada por: