Montadora já estuda a localização de componentes, como motores elétricos e baterias
Depois de passar por profundo processo de reestruturação na América do Sul, o qual envolveu marca, produção e produtos, a Volkswagen inicia um novo momento de transformação no país. Desta vez, os temas são oferta híbrida e corte de custos.
“Durante a pandemia, vimos os custos de materiais subirem no mundo todo, o que elevou em 40% os nossos gastos com matérias-primas e componentes. Agora, iniciamos a corrida para a redução desses custos”, disse o vice-presidente de compras Luis Alvarez, na quarta-feira, 21, durante evento de premiação dos fornecedores da montadora na região.
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Não havia melhor público para se dirigir uma mensagem com este teor. Afinal de contas, o processo de corte de custos passa inevitavelmente pela cadeia de suprimentos – será com estas empresas que a VW terá de sentar, conversar e negociar eventuais possibilidades de economias.
A última vez que a montadora havia reunido sob um mesmo teto representantes de seus principais fornecedores havia sido há 11 anos, em setembro de 2012. Ainda que tenha sido em razão do prêmio, a reunião mostrou em suas entrelinhas que a fabricante precisará se aproximar ainda mais de seus funcionários para ter êxito em sua estratégia atual.
O plano, de acordo com o CEO da VW, Alexander Seitz, envolve basicamente a localização da produção de componentes que vão integrar a oferta híbrida da montadora na região, a qual ainda está em fase de desenvolvimento, em parte, na Índia.
“Os planos envolvem, primeiro, a discussão da nacionalização. Precisamos aumentar a localização. Porque a VW tem plataformas globais que precisam de escala para evitar custo logístico, custo com importação”, contou o executivo.
Volkswagen gastou R$ 10 bilhões em compras
A essa altura, toda e qualquer informação a respeito dos modelos híbridos da Volkswagen estão envoltos pelo biombo corporativo. De qualquer forma, Seitz informou que a empresa desembolsou no ano passado R$ 10 bilhões em compras na região, e que o apetite em 2023 será similar ao do ano passado.
Disse também que a nacionalização em discussão envolve motores elétricos, baterias e, principalmente, a integração dos sistemas ao powertrain. “Esperamos ele [modelo híbrido] para o médio-prazo. Mas este tempo é tempo demais para mim”, disse o CEO da montadora.
Assim como outras fabricantes, a Volkswagen também prepara o seu modelo de automóvel equipado com motor híbrido flex para o mercado brasileiro. A tecnologia de powertrain é uma alternativa apontada pelas montadoras como ideal para o processo de transição de uma frota movida a combustíveis fósseis a outra eletrificada.
O projeto do híbrido flex da Volkswagen envolve recursos do atual ciclo de investimento reservado para a região até 2026: R$ 7 bilhões. Segundo Seitz, uma fração desse valor vai custear o desenvolvimento local. A informação é relevante porque nos dá uma dimensão de tempo – o híbrido flex não deve estar comercialmente pronto até 2026, a não ser que a montadora antecipe recursos.
Está nas mãos da Skoda, uma das subsidiárias do Grupo Volkswagen, o desenvolvimento de um chassi que seja compatível com a tecnologia híbrido flex, algo que não é possível com as atuais plataformas que a VW utiliza no mundo. No caso, a MQB, sobre a qual são construídos Polo, Virtus, Nivus e T-Cross, e a MEB aplicada em modelos elétricos.
América do Sul fora da reestruturação de Oliver Blume
A operação da Skoda, inclusive, deverá passar por reestruturação na Europa, assim como outras marcas de volume do grupo, como a Seat e a própria VW.
O CEO Oliver Blume pretende executar plano de integração do processo de desenvolvimento das empresas em uma estrutura compartilhada e simplificada na comparação com a atual. As economias com a medida deverão girar em torno de € 3 bilhões.
Alexander Seitz disse que a operação da montadora na América do Sul não integra o planejamento da matriz, uma vez que a Volkswagen SAM, como é denominada a subsidiária sulamericana na Alemanha, já executou a sua reestruturação nos últimos anos, sobretudo ao longo da gestão do ex-CEO Pablo Di Si, que hoje pilota a operação da marca na América do Norte.
Foi naquela época, iniciada por volta de 2018, que a montadora iniciou o movimento que chamou de “ofensiva de SUVs”, no caso, a chegada ao mercado dos primeiros modelos utilitários esportivos da marca no mercado local, a começar pelo T-Cross.
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“Se já atendemos aos objetivos que foram estabelecidos, não é preciso um esforço adicional. Depois da reestruturação da empresa, já estamos positivos [reverteram o prejuízo] nos últimos três anos e estamos em um bom caminho. Claro, o mercado da América do Sul é muito volátil, existe uma crise na Argentina que influncia aqui no Brasil, mas não vemos como algo que pode nos inserir em uma nessa estratégia global”, contou Seitz.
Enquanto desenha o parque de fornecedores e busca mecanismo e meios para cortar os custos operacionais, a empresa pretende lançar quatro modelos até o final do ano. Nenhum deles, no entanto, será o primeiro da ofensiva de híbridos que a montadora avista no horizonte.