Denúncia feita à Agência Reuters inclui criação de equipe destinada a cancelar visitas agendadas por clientes
Por mascarar a autonomia de seus veículos e até mesmo formar uma equipe destinada a cancelar agendamentos em concessionárias, a Tesla pode viver um pesadelo que bem poderia ser batizado de Eletrogate. Uma analogia ao Dieselgate, que derrubou vários executivos do Grupo VW por causa de um software capaz de fraudar momentaneamente as emissões enquanto o carro passava por inspeção.
Uma reportagem da Reuters revela que funcionários da fabricante de carros elétricos foram instruídos para impedir que clientes com queixas de baixa autonomia se dirigissem à rede de concessionárias. A denúncia da agência de notícias cita funcionários comemorando cancelamentos de visitas agendadas e monitoramento do desempenho de cada pessoa envolvida na tarefa.
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A reportagem inclui o relato de um cliente que confirma a forma de agir da montadora diante de uma queixa. Ele comprou um Tesla Model 3 usado, 2021, esperava poder rodar os quase 600 quilômetros declarados pela fábrica, mas logo percebeu que a autonomia não alcançava nem a metade disso, sobretudo em dias frios.
Ao se dar conta de que o carro estava com problema, contatou a Tesla e agendou uma visita à revenda. Mais tarde, recebeu duas mensagens de texto, informando que um diagnóstico remoto indicou que tudo estaria bem com a bateria e, assim, pediu-se o cancelamento da visita. A Reuters apurou que cada agendamento cancelado trazia uma economia estimada em US$ 1 mil à Tesla, ao mesmo tempo que aliviava a pressão e as filas de espera nas centrais de atendimento.
Tesla já foi multada por causa de autonomia
A baixa autonomia em tempo frio (redução de mais de 50% da distância percorrida) resultou em uma multa para a Tesla de US$ 2,1 milhões por parte de um órgão sul-coreano de defesa do consumidor, o KFTC. A mesma agência ainda forçou a montadora a ajustar o texto, em seu site, que mencionava o exagero na autonomia e ainda obrigou a fabricante a admitir publicamente a publicidade enganosa.
Elon Musk, o proprietário da Tesla, e dois outros executivos admitiram a propaganda exagerada sobre autonomia em 19 de junho deste ano. A Reuters recorda que os carros da marca muitas vezes falham em atingir o alcance anunciado e até mesmo as projeções informadas no painel. Nem Musk nem a montadora responderam às perguntas da agência de notícias a respeito.
A fonte ouvida na denúncia informa que a ordem para apresentar quilometragens otimistas partia de Musk: “Ele queria mostrar bons números de autonomia com o veículo totalmente carregado. Quando você compra um carro e, ainda na garagem, ele aponta de 560 a 640 quilômetros de autonomia, isso traz uma sensação de bem-estar.”
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A reportagem também cita a manipulação do software na estimativa de autonomia. A empresa teria decido, há cerca de uma década, para fins de marketing, aplicar algoritmos para seu medidor de alcance que mostrariam ao motorista projeções fantasiosas para a distância que ele poderia percorrer com uma bateria cheia, de acordo com uma pessoa familiarizada com o projeto inicial do software.
Então, quando a bateria caísse abaixo de 50% da carga máxima, o algoritmo mostraria aos motoristas projeções mais realistas para a autonomia restante. Segundo uma fonte, para evitar que os condutores fiquem parados no meio do caminho quando o alcance previsto começa a diminuir mais rapidamente, os carros da Tesla foram projetados para uma “reserva de segurança”, permitindo cerca de 24 km de autonomia adicional após a leitura do painel mostrar a bateria descarregada.
Novo carregador rápido
Em meio à polêmica do Eletrogate, a Tesla prepara carregadores rápidos mais potentes, com saída de 350 kWh. A montadora confirmou o novo modelo, cujos planos já haviam sido revelados há mais de um ano. Ele chegou ser implantado em estações de recarga rápida europeias por quatro meses.
O novo aparelho de recarga tem cabo mais longo que os atuais, e também um espaço reservado para leitura de cartões de crédito. Já existe também em uso uma estação de recarga com especificações elétricas de 1.000 volts e 615 ampères, o que indicaria potência máxima total de 600 kWh.