Presidente executivo da montadora discursou sobre greve do sindicato, segurança nacional e ofensiva asiática
A greve dos trabalhadores que afeta as grandes empresas de Detroit – Ford, General Motors e Stellantis – completou um mês com as montadoras se manifestando apenas por meio de notas oficiais e comentários em redes sociais. No entanto, a paralisação da maior e talvez mais importante fábrica da Ford, em Kentucky, machucou e demandou abordagem diferente.
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Na segunda-feira, 16, Bill Ford, presidente executivo e bisneto do fundador da companhia subiu em um palco montado diante de pouco mais de 20 espectadores presentes. Por trás das câmeras, no entanto, milhares acompanharam, via YouTube, o discurso de um personagem que pouco tem se manifestado publicamente a respeito da companhia, o que elevou as expectativas em torno do evento.
Bill falou por dez minutos a respeito de como a Ford se mostrou solicita às demandas nacionais. Chegou a citar a participação da companhia em momentos críticos dos Estados Unidos, como a Segunda Guerra Mundial e a pandemia de covid-19. Falou também sobre sua relação com membros do sindicato UAW e como a greve faz bem para os competidores asiáticos.
Os inimigos são Tesla, Toyota e Honda
“Os líderes do UAW chamaram-nos de inimigos nestas negociações, mas nunca considerarei os nossos funcionários como inimigos. Isto não deveria ser Ford contra o UAW. Deveria ser a Ford e o UAW versus a Toyota, a Honda, a Tesla e todas as empresas chinesas que querem entrar no nosso mercado interno”, disse Bill Ford na oportunidade.
“Toyota, Honda e Tesla estão adorando essa greve. Porque eles sabem que quanto mais tempo durar, melhor será para eles. Eles vencerão e todos nós perderemos”, completou.
Sob sua ótica, a produção de veículos nos Estados Unidos virou algo mais crítico do que nunca, tornando-se, inclusive, uma questão de segurança nacional. Para justificar seu argumento, Bill afirmou que viu ao longo da vida indústria serem dizimadas a partir do momento em que passaram a depender de terceiros para ter acesso a alguns produtos.
O temor de que terceiros venham a ter mais fatias do mercado dos Estados Unidos tem sido usado como argumento pelas montadoras na hora de negociar acordos com o sindicato. Alegam que para ser mais competitivas, e fazer frente aos rivais, precisam manter os custos próximos do nível em que estão – os pedidos salariais e os benefícios pleiteados pelo trabalhadores, portanto, inviabilizariam a concorrência com os asiáticos em pé de igualdade.
Produção local é questão nacional
O argumento também resvala na agenda do país, que vem criando formas para que sua economia dependa cada vez menos de fornecedores instalados na China principalmente.
“Deixe-me ser claro: uma base de produção forte é algo crítico para nossa segurança nacional. Produzir nos Estados Unidos é mais importante do que nunca, especialmente nestes tempos de incertezas”, disse Bill Ford durante a transmissão.
A fábrica da Ford em Kentucky, inaugurada em 1969, tem um quadro formado por mais de 9 mil funcionários. Ali são produzidos as picapes F-250 e F-550, além do SUV Ford Expedition.
“Fomos absolutamente claros e esperamos o suficiente, mas a Ford não entendeu a mensagem”, disse o presidente do UAW, Shawn Fain, na quarta-feira, 11. “É hora de um contrato justo na Ford e no resto das ‘Três Grandes’. Se eles não conseguirem entender isso, depois de quatro semanas, os 8,7 mil trabalhadores que fecharão esta fábrica extremamente lucrativa os ajudarão a entender isso”, completou.
Bill Ford também comentou em seu discurso que é “o líder mais pró-sindical da indústria dos Estados Unidos”. Vamos ver até que ponto este perfil lhe será útil para atender a todas as demandas. Às suas e às dos trabalhadores.