Tema foi discutido por executivos de montadoras e fornecedores durante o Fórum AB
“Não pode ser só LinkedIn”, afirmou, categoricamente, Eliane Cantão, diretora de logística e cadeia de suprimentos da Nissan América Latina. Trocando em miúdos, não pode ser algo apenas para inglês ver.
Para Cantão, assim como para as outras lideranças que participaram de painéis no Fórum AB Diversidade no Setor Automotivo, quem está no topo da estrutura organizacional deve fomentar diversidade e inclusão dentro das empresas não apenas com foco em metas ou para afagar stakeholders, mas também com ênfase no social – olhando para a companhia tal qual uma extensão da sociedade.
A executiva da Nissan, ao lado de Gleide Souza, diretora de relações governamentais do BMW Group no Brasil, representou as montadoras. Já Gastón Diaz Perez, presidente e CEO da Bosch América Latina, e Marco Rangel, presidente da FPT Industrial América Latina, abordaram o tema sob a ótica das lideranças de fornecedoras.
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“Antigamente, sequer tínhamos verba para trabalhar diversidade e inclusão. Hoje já o temos, e conseguimos trabalhar e compreender as necessidades que vão surgindo ao decorrer da jornada”, frisou Eliane Cantão. “É fundamental que valorizemos talentos. Devemos treinar e incluir as pessoas. Não fomos treinados para esse mundo diverso. É uma questao de educacao e, como já colocado, uma grande jornada”, complementou Gleide Souza.
Para Gastón Diaz Perez, da Bosch, há também de se ter estratégia a fim de atrair talentos de backgrounds distintos. “A empresa tem de ter capacidade de atrair pessoas diversas com coeficiente intelectual elevado, que adicionam valor e trazem novas ideias. Não adianta ‘pescar’ apenas homens brancos. O talento está em todos os indivíduos”, enfatizou.
Marco Rangel, por sua vez, levantou ponto interessante acerca da retenção de profissionais diversos. “Se o ambiente não for favorável à atração desses talentos que se multiplicam em todas as raças, grupos e vertentes, e para a sua manutenção dentro da companhia, não teremos como competir. É um desafio que temos de encarar como líderes, com metas efetivas”, salientou.
Metas são importantes, mas não são força motriz
No caso da FPT Industrial, companhia liderada por Rangel, há metas de diversidade atreladas aos bônus para lideranças. No entanto, de acordo com o executivo, tais não são a força motriz para o fomento da pauta na organização.
“Como mencionei, as pessoas devem se sentir parte da companhia. Por isso, nos empenhamos de forma a ter ações de diversidade que deem resultado em um curto-médio prazo. É claro que ainda há um viés, que torna o trabalho complexo, mas, aos poucos, estamos desmistificando isso”, comentou.
“Nossas metas não são vinculadas a bônus. O tema diversidade hoje é uma necessidade, algo que todo líder deve ter em mente. Até mesmo porque os times pedem isso de suas lideranças”, enfatizou Diaz Perez, que ainda ressaltou que dentro da Bosch iniciativas de diferentes áreas são compartilhadas de forma a evoluir os segmentos da empresa de forma mais homogênea.
Lideranças femininas e rejeição
De acordo com dados da pesquisa Diversidade no Setor Automotivo, realizada por Automotive Business, com coordenadoria técnica da MHD Mercado e Desenvolvimento, das mulheres que atuam na indústria, apenas 0,6% estão em cargo de liderança. E, com tantos desafios em uma seara ainda machista, como essas líderes podem trabalhar o tema sem quaisquer rejeições? Como acolher a todas e todos?
“Existe o paciente e o médico. Você leva a sua dor até quem pode curar sua dor. Por isso, essa mudança de cultura é um trabalho sem fim e que também deve ser escutado pelos homens”, disse Eliane Cantão. “Nossa obrigação como líderes dentro da indústria é multiplicar, falar sobre isso e motivar. Falando especificamente sobre mulheres, não vejo uma impossibilidade dentro do segmento ou em qualquer outra seara que seja de crescimento do público feminino”, salientou Gleide Souza.
“Sabemos que algumas empresas têm dirigentes mais machistas, mas isso é algo que temos de quebrar. A mudança no comportamento é, em parte, nossa responsabilidade e parte responsabilidade da empresa”, completou a executiva da BMW, que fez questão de enfatizar que a montadora é atualmente a única do país a ter uma CEO mulher, a mexicana Maru Escobedo.