Vai ser possível reservar uma viagem de eVTOL por aplicativo. Antes disso, no entanto, a tecnologia precisa ser regulamentada
Filmes e desenhos como Blade Runner (1982) e Os Jetsons (1962) imaginaram o futuro com carros voadores para ir de um lado a outro. Décadas depois, a visão futurista enfim chega perto de se concretizar com o eVTOL (veículo elétrico de decolagem e pouso vertical). A solução que mais se aproxima de um carro voador é foco do desenvolvimento tecnológico de uma série de empresas.
No Brasil, a promessa é que eles voem até o final desta década, mas ainda há desafios para torna-los realidade. Nesta reportagem, mostramos quais são os maiores pontos favoráveis e onde estão os grandes obstáculos para que a tecnologia saia da ficção e ganhe a vida real.
1 – AFINAL, O QUE SÃO CARROS VOADORES?
Os eVTOLs são veículos aéreos de transporte de passageiros adaptados para voar dentro da cidade ou percorrer curtos trajetos entre municípios, de até 20km. O design não remete ao que a ficção construiu sobre carros que levitam, mas se assemelha bastante ao drone, em tamanho maior para caber pessoas, por isso, a solução também é conhecida como drone de passageiro. A grande promessa é facilitar a mobilidade em grandes cidades, baratear custos e economizar tempo de deslocamento. Pelo céu, um trajeto de até 20km poderá ser feito em poucos minutos.
Ainda na lista dos pontos positivos, estes veículos são até quatro vezes mais silenciosos que os helicópteros; funcionam por propulsão elétrica e, portanto, podem ser menos poluentes; têm baixos custos de manutenção; além da expectativa de serem autônomos no futuro – diversos projetos têm esse objetivo, mas os primeiros a voar ainda devem precisar de pilotos.
2 – QUANDO A TECNOLOGIA VAI FUNCIONAR NO BRASIL?
Estudo de 2018 da Porsche Consulting aponta que o mercado de eVTOLs deve crescer significativamente em 2025. Daqui a quinze anos, serão 23 mil unidades desses veículos voando pelas maiores cidades do mundo, aponta a consultoria.
No Brasil, “os eVTOLS devem acontecer ainda nesta década”, defende André Stein, responsável pela estratégia da EmbraerX e CEO da Eve Air Mobility, startup da empresa aeroespacial voltada a soluções de mobilidade aérea urbana.
O projeto integra o Uber Elevate, iniciativa que investe para desenvolver os eVTOLs para o transporte coletivo por demanda, assim como o aplicativo de carros da Uber. Ou seja, em poucos anos, o passageiro poderá solicitar o veículo voador por aplicativo e compartilhar a viagem com mais pessoas. “É uma tecnologia que traz muita ruptura por diminuir emissões locais e facilitar a mobilidade urbana”, explica Stein.
“Mas a ideia não é virarmos Os Jetsons, em que todo mundo vai para o trabalho com um eVTOL. O objetivo é que a tecnologia seja uma opção para ser usada uma ou duas vezes por mês para a pessoa se deslocar mais rápido, quando precisar.”
Para que os eVTOLs ganhem os céus das grandes cidades, não basta só desenvolver o veículo. Stein aponta que as grandes metrópoles precisam estar preparadas para receber a inovação que demanda infraestrutura, investimento e regulamentação específica. Ou seja: não é tão simples quanto pode parecer.
3 – O QUE ESPERAR DO MERCADO DE EVTOLS?
Há grande espaço para a novidade no Brasil, principalmente em São Paulo. De acordo com o estudo da Porsche Consulting. A empresa estima que, quando a infraestrutura estiver plenamente disponível, a cidade poderá acomodar 1.050 drones de passageiros, devido ao seu alto potencial de substituição de outros meios de transporte. O estudo indica que os paulistanos perdem em média 86 horas por ano no trânsito.
“Esses veículos aéreos podem mudar essa realidade porque trazem velocidade de deslocamento para a população, além de serem inovadores e precisarem de baixos investimentos”, afirma o sócio da Porsche Consulting Ingo Glawe.
Ele estima que uma viagem de Guarulhos para o Centro de São Paulo (20 km de distância), que de carro demora de 35 minutos a uma hora, duraria convidativos sete minutos a bordo de um carro voador.
Para André Stein, a cidade também é um mercado potencial importante por ter a maior frota de helicópteros do mundo. “Isso significa que São Paulo já tem uma infraestrutura para a mobilidade aérea urbana.” Ele estima que 400 unidades do novo veículo aéreo estejam no céu da capital paulista nos próximos anos.
Outro mercado promissor para a novidade está no Rio de Janeiro. Stein avalia que os drones de passageiros podem ser uma solução para a demografia carioca, formada por cadeia de montanhas no meio da cidade, e para o trânsito com diversos gargalos, que gera longos engarrafamentos.
Globalmente, a expectativa é de que o novo transporte gere um mercado estimado em US$ 32 bilhões. De acordo com Glawe, “a Ásia deve ter cerca de 45% de participação e as Américas, aproximadamente 30%, com maior destaque para os Estados Unidos.”
4 – QUAL É A INFRAESTRUTURA NECESSÁRIA?
Os eVTOLs obviamente não precisam de estradas ou trilhos para circular, mas demandam uma infraestrutura adequada para decolagem e pouso, assim como postos para abastecimento elétrico, os chamados vertipontos. A previsão da Porsche Consulting é de que São Paulo comece a operar com cinco vertipontos espalhados pela cidade.
Muitas empresas ao redor do mundo, no entanto, apostam em começar a oferecer a opção de transporte aproveitando infraestruturas existente nas cidades, como aeroportos e helipontos. Com a expansão das rotas, mais locais para decolagem e pouso para eVTOLs devem ser incluídos nos trajetos.
Stein lembra também que tudo precisa ser acessível a outros meios de transporte, já que os carros voadores não vão atuar sozinhos e precisam estar interligados a outros meios de transporte que facilitem a chegada do passageiro até o vertiponto. Por exemplo, será preciso pegar um táxi ou alugar uma bicicleta para chegar ao ponto de partida do eVTOL e fazer um voo para o aeroporto.
5 – COMO VAI FUNCIONAR PARA O USUÁRIO?
Há diversas estratégias, mas projetos como o Uber Elevate focam em tornar os eVTOLS transportes coletivos por aplicativo, assim como o que existe hoje para viagens de carro. Para isso funcionar de forma eficiente, André Stein diz que todo o ecossistema da mobilidade precisa ser pensado: desde o estabelecimento de rotas de voo compartilhadas pelos passageiros até a localização e o acesso para chegar aos vertipontos que precisam estar disponíveis onde há bom potencial de demanda para as viagens.
O executivo lembra que o objetivo da Eve é tornar o transporte aéreo acessível a mais gente. Com este modelo, viajar de eVTOL não será a opção mais barata no cardápio de transportes das cidades, mas tende a ter preço muito mais baixo do que andar de helicóptero, por exemplo, e pode chegar a ter preço bastante competitivo em realação ao deslocamento de carro em algumas viagens, principalmente se a economia de tempo também entrar na conta.
Até o momento, o valor das viagens dos eVTOLs são apenas estimativas. De acordo com o sócio da Porsche Consulting Ingo Glawe, o preço deve ficar em torno de US$ 1,80 por quilômetro percorrido. No entanto, o tamanho frota, a quantidade de vertipontos da cidade, o tempo de transferência adicional durante o embarque e as normas de segurança rigorosas podem impactar este valor.
6 – A QUANTAS ANDA A REGULAMENTAÇÃO DOS DRONES DE PASSAGEIRO?
Se a tecnologia evolui a passos largos, não se pode dizer o mesmo da regulamentação necessária para tornar os eVTOLs possíveis na vida real. Até o momento, não há propostas concretas de legislação para o novo meio de transporte e pouco se fala no assunto no Brasil. Assim, há certo consenso de que este talvez seja o gargalo mais desafiador para que os eVTOLs passem a fazer parte do cenário urbano.
De acordo com Ricardo Bacellar, sócio da consultoria KPMG do Brasil, regulamentar o tráfego aéreo dos eVTOLs será uma tarefa complexa – principalmente na fase em que estes veículos dispensarem pilotos. Como sinal da dificuldade que está por vir, ele lembra da lentidão dos governos para desenhar legislações para carros autônomos e drones de entregas, ainda que essas tecnologias estejam disponíveis em grande escala.
“Administrar a legislação de tráfego no solo já é difícil, imagina fazer gestão de uma regulamentação 3D, que ainda precisa adicionar diversas camadas de alturas diferentes; levar em consideração as diferentes topografias das cidades; os outros veículos aéreos. É muito complexo”, afirma Bacellar.
Como um dos caminhos viáveis, ele aponta o aproveitamento da legislação vigente sobre helicópteros como base para os eVTOLs. “Ainda assim, será preciso se debruçar em cima das diferenças técnicas de cada veículo e o perfil de uso para que a legislação não tenha brechas.”
Nesse sentido, a Embraer X trabalha em estudos para a gestão de tráfego aéreo dos eVTOLs. No Reino Unido, a Eve lidera um consórcio de empresas que estudam como operar no transporte de passageiros e cargas nas áreas urbanas, mas os resultados ainda são preliminares. Ainda que a jornada para viabilizar os carros voadores seja mais lenta do que a esperada, o caminho é um só: para o alto e avante.
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