MAHLE aponta que país tem vantagem na corrida por transportes limpos em CO2
Veículos elétricos, célula de hidrogênio, carros híbridos, modelos flex. A gama de possibilidades tecnológicas para a mobilidade sustentável, zero carbono, é ampla e promissora, mas, muitas vezes, confusa.
No meio de tudo, países puxam a brasa para a própria sardinha ao tentar vender como única saída a solução em que têm mais especialidade. Mas a verdade é que, para garantir a menor pegada ambiental, a melhor aposta é na diversidade.
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O Brasil, por exemplo, tem os biocombustíveis como aliados para descarbonizar a mobilidade. Além disso, há o enorme potencial de geração de energia limpa localmente.
“Não há solução única para o mundo todo. Vamos contar com diferentes tecnologias ao mesmo tempo para acelerar a descarbonização da mobilidade”, conta Everton Lopes, diretor de tecnologia da MAHLE América do Sul.
A empresa possui foco claro no futuro da mobilidade. Como parte de sua estratégia, a MAHLE investe no desenvolvimento de componentes avançados e ainda mais eficientes para motores de combustão interna limpa, considerando o uso de combustíveis alternativos, que incluem biocombustíveis, sintéticos e hidrogênio.
Além disso, a empresa tem elevado a participação em soluções para gerenciamento térmico, mais um aspecto que contribui para a eficiência energética por meio de sistemas de dissipação de calor e conforto superior de cabine.
A companhia é responsável ainda por inovações em mobilidade elétrica e soluções de carregamento inteligente, com sistemas para todas os segmentos, desde bicicletas até veículos comerciais. A MAHLE desenvolve tanto a tecnologia necessária ao veículo para o carregamento, quanto a infraestrutura de para essa recarga.
A operação brasileira da companhia, desenvolve e produz componentes de motores, soluções de filtração e sistemas de gerenciamento térmico, como trocadores de calor e ar-condicionado para várias montadoras.
Além disso, a MAHLE tem em Jundiaí (SP) um de seus 12 centros de pesquisa e desenvolvimento globais, que completa 15 anos em junho. A unidade conta com 150 especialistas que atuam no desenvolvimento da mobilidade sustentável, em parceria com toda a indústria automotiva regional.
A seguir, Lopes compartilha 5 fatos que ninguém conta sobre a mobilidade sustentável no Brasil.
1- Transporte não é o maior vilão das emissões, mas pode liderar descarbonização
Fala-se tanto sobre a emergência em reduzir o impacto ambiental dos veículos que a impressão é que o segmento está entre os maiores emissores de CO2. A verdade é que o setor não lidera a lista. Quer dizer, em países da Europa, na China e nos Estados Unidos, os transportes não são a principal fonte de emissão de gases de efeito estufa, sendo liderada nesse caso, pela produção de energia elétrica, que tem como base o combustível fóssil.
Já no Brasil, com a presença dos biocombustíveis, o segmento aparece apenas em quarto lugar, atrás da agropecuária, de mudanças no uso da terra e de geração de energia. De qualquer forma, mesmo sem ser maior vilã, a mobilidade tem liderado o movimento pela descarbonização. E, segundo Lopes, essa é uma enorme oportunidade para o Brasil.
2- Emissão de carbono não está só no escapamento
É comum que o debate sobre a descarbonização da mobilidade gire em torno do que sai do escapamento dos veículos. Mas, como diria Sheakespeare (ou quase), há mais emissões entre o céu e a terra do que supõe a vossa vã filosofia.
O ciclo de CO2 de um carro deveria considerar as emissões da fabricação do veículo, da produção e transporte do combustível, do uso e, claro, da reciclagem depois que a vida útil dele termina. Essa visão mais abrangente é conhecida como “do berço ao túmulo”.
“Hoje, todas as legislações de emissões de CO2 para a mobilidade no mundo consideram apenas as emissões do uso do veículo”, lembra Lopes.
Cálculos da MAHLE mostram que a produção de um carro de passeio a combustão gera a emissão de 5 toneladas de carbono. Esse número é muito mais alto no caso de automóveis elétricos, vistos por muitos como solução para a mobilidade descarbonizada: 14,7 toneladas.
“Veículos elétricos já saem da fábrica com uma conta corrente muito maior de emissões de carbono”, diz o executivo.
Segundo ele, o motivo para tanta disparidade é que os modelos com a nova tecnologia dependem de muito mais componentes eletrônicos, têm propulsores que usam imãs permanentes e alumínio adicional na estrutura. A conta inclui também as emissões geradas na produção da bateria, que demanda maior exploração de minérios.
Quando a reciclagem e a manutenção do carro entram na conta, mais uma vez os modelos a combustão têm vantagem no Brasil, com a emissão de 3 toneladas de dióxido de carbono, enquanto os elétricos chegam a 4 toneladas.
3- No Brasil, carro flex é campeão da mobilidade sustentável
Virou lugar comum tratar os veículos elétricos como solução mais sustentável do ponto de vista ambiental porque, de fato, na hora de usar, esses modelos emitem zero carbono. Em uma comparação, considerando 150 mil quilômetros de uso, um carro a gasolina no Brasil (que sempre conta com 27% de etanol), emite 27,8 toneladas de carbono.
Já automóveis flex, quando abastecidos com etanol puro, geram 15,5 toneladas de emissões – a questão é que, nesse caso, essa emissão é compensada quando todo o ciclo de vida do combustível entra na conta, já que o plantio da cana-de-açúcar faz a captação do carbono.
Ainda assim, se o veículo elétrico carrega a medalha de ouro no momento do uso, ele facilmente perde o título no quesito mobilidade sustentável se a conta for “do berço ao túmulo”, considerando todo o ciclo de vida do carro.
4- Com energia limpa, Brasil pode fortalecer produção de veículos
Em um futuro próximo, quando a preocupação com as emissões de CO2 for do berço ao túmulo, o Brasil tende a se fortalecer como polo de produção de veículos. Everton Lopes fala a respeito:
“Como a nossa matriz energética é uma das mais limpas do mundo, o saldo de carbono de um veículo que sai de uma fábrica nacional é bem menor do que o feito em outras localidades do globo. Isso pode nos posicionar como um centro global de produção limpa de veículos e componentes.”
O executivo lembra que o crescimento da demanda global por energia não é acompanhado por aumento das soluções renováveis. Assim, a posição brasileira tende a ser cada vez mais valorizada. “Energia elétrica é a base do crescimento econômico e, portanto, precisamos manter a atenção em nossa matriz energética, reforçando nosso planejamento na expansão do uso de renováveis, criando oportunidades para o Brasil na economia global ”, observa Lopes.
5- Motor a combustão ainda tem muito combustível limpo para queimar
Diante de tantos fatores de influência, o motor a combustão está longe do fim. Ao contrário: ainda tem muito combustível limpo para queimar. Lopes defende que, em paralelo a um processo racional de eletrificação da mobilidade, o Brasil deve investir em ampliar a presença dos biocombustíveis com medidas como elevar o porcentual de etanol na gasolina e de biodiesel e HVO no diesel e expandir outras frentes, como a do biometano.
O executivo também entende que o momento é adequado para desenvolver medidas para incentivar o consumidor a abastecer com etanol. Entre as ideias, ele enumera a possibilidade da utilização de créditos de carbono para deixar o preço mais atrativo dos biocombustíveis na bomba de abastecimento, favorecendo o uso da energia verde.
Com tantas informações no horizonte, uma coisa é certa: o Brasil tem muito trabalho para fazer quando se trata de mobilidade sustentável, mas também conta com um enorme potencial a explorar. A hora de agir é agora.